O céu azul sem nuvens e as temperaturas acima de 30º C de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, contrastam com o clima que rondou os bastidores do 31º Congresso Internacional da Indústria do Trigo. Vai ano, vem ano, as chuvas fortes da região Sul voltam à pauta do evento. Pela terceira edição consecutiva, chuvas no Paraná ou no Rio Grande do Sul (neste ano em ambos) dominam a atenção de industriais e traders.
Não é por menos. A produção de trigo nacional está 85% concentrada na região Sul, da qual os moinhos são dependentes. Menos trigo significa mais custo aos moinhos (e o pãozinho mais salgado). Isso porque os preços do cereal tendem a subir seguindo a lei da oferta e demanda. Uma menor oferta nacional faz os moinhos recorrerem a maior volume de trigo importado a um câmbio pouco convidativo. O trigo responde por aproximadamente 70% do custo de produção da farinha.
O evento anual reúne executivos do setor, proprietários de moinhos, fornecedores de insumos para indústria moageira, traders e representantes do setor produtivo nacional e internacional. De quarta, 23, a sexta-feira, 25, os agentes trocavam informações e buscavam formar a sua própria avaliação sobre a safra para tomar suas decisões de compra logo à frente.
Os estragos da chuva já aparecem na safra paranaense, que combinados à seca no início do plantio, levaram a uma quebra de praticamente metade da safra, saindo de um potencial de 4 milhões de toneladas para cerca de 2,35 milhões de toneladas previstas. No Rio Grande do Sul, as previsões otimistas apontam para uma colheita de aproximadamente 3,9 milhões de toneladas, mas ainda não consideram as perdas geradas pelas intensas e contínuas precipitações dos últimos dias.
As conversas dos corredores, do cafezinho e ao pé do ouvido entre traders e moinhos, apontam para uma safra de pouco mais de 7,5 milhões de toneladas. Esse volume fica aquém dos 8,264 milhões de toneladas projetadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e bem distante dos 9 milhões de toneladas previstos pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Outro receio que bate à porta da indústria moageira é a qualidade do trigo colhido, já afetada pelas chuvas, o que influencia na mescla da farinha. Em ambos Estados, as avaliações mostram uma safra com maior quantidade de cereal de menor qualidade, o chamado trigo pão. No Rio Grande do Sul, a eventual ocorrência de ventos também preocupa, já que podem causar o acamamento (tombamento) das plantas.
O tempo dos próximos dias será determinante para a safra de trigo 2024. Sem dúvidas, as chuvas – ausentes ou não – vão continuar direcionando o clima (e as preces) do setor.
O jantar dançante que encerrou o Congresso Internacional do Trigo ficou por conta de Tiago Abravanel. Mas a trilha poderia também ser Jorge Ben Jor …
“Chove chuva
Chove sem parar
Chove chuva
Chove sem parar
Pois eu vou fazer uma prece
Pra Deus, nosso Senhor
Pra chuva parar
De molhar o meu divino “trigo” (amor na letra original, mas permitam aqui, caros leitores, a liberdade autoral).
Fonte: Broadcast
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